Modelo alemão de formação de jogadores encontraria entrave na legislação brasileira

Constituição proíbe que clubes firmem contratos com jovens menores de 14 anos; na Alemanha, atletas com 11 já participam de treinamentos na Federação

O título mundial e a histórica goleada de 7×1 imposta à Seleção Brasileira na semifinal da Copa do Mundo transformaram a Alemanha na principal referência do futebol mundial. Extremamente elogiado por especialistas na área esportiva, o modelo alemão de categorias de base e formação de novos jogadores são apontados como um dos principais fatores de sucesso dos novos tetracampeões mundiais e exemplo a ser seguido por outros países. No Brasil, no entanto, a atual legislação trabalhista precisaria ser alterada para que um modelo similar ao alemão pudesse ser implantado.

Enquanto na Alemanha crianças com 11 anos já estão no radar de treinadores preparados para formar novos talentos, atualmente os clubes brasileiros não investem de maneira maciça em jovens talentos. De acordo com Gustavo Lopes Pires de Souza, advogado especialista em Direito Desportivo, isso acontece porque as agremiações não tem nenhuma garantia de contrapartida de atletas muito novos. Isso porque, até os 16 anos, nenhum jovem jogador brasileiro pode assinar contratos empregatícios.

“Hoje, os clubes europeus chegam aqui e levam os jovens com 13, 14 anos. Atualmente, não existem mais as categorias ‘dente-de-leite’ (11, 12, 13 anos) e ‘fraldinha’ (7, 8, 9 anos), pois os grandes clubes não querem investir tempo e dinheiro em jogadores que serão levados pelos estrangeiros sem nenhum custo. Isso afeta diretamente a formação e o aparecimento de novos jogadores”, afirma Pires de Souza.

De acordo com o artigo 7 da Constituição Federal, jovens com menos de 14 anos no Brasil não podem ter nenhum tipo de vínculo empregatício. A legislação estabelece ainda que até 16 anos os adolescentes são autorizados apenas a firmarem contratos como aprendizes.

“Não é preciso alterar radicalmente a Constituição, o ECA ou passar a permitir o trabalho de menores de 14 anos, mas sim entender que o futebol é uma atividade peculiar no Brasil, que faz parte de nossa cultura. Acredito que seria necessário criar um dispositivo infraconstitucional, um regra que reconheça essa peculiaridade e dê mais garantias aos clubes de que o investimento em jovens atletas pode dar retorno, de que os jogadores não serão levados por times estrangeiros sem nenhuma contrapartida”, aponta Pires de Souza.

Celeiro de craques

Na Alemanha, desde o início dos anos 2000, a DFB (Federação de Alemã de Futebol) e 36 clubes do país (das duas principais divisões) investiram mais de US$ 1 bilhão na construção de 366 centros de treinamentos para jovens atletas.

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Wolfgang Nierbasch, presidente da DFB, afirmou que, nesses locais, jovens com idades entre 11 e 14 recebem aulas extras por meio de uma sessão de treinamento de duas horas semanais fornecidas por profissionais da federação, além do treinamento em seus respectivos clubes.

Os resultados da fórmula alemã foram conhecidos por todos os brasileiros nesta copa do Mundo. Dos jogadores que marcaram os sete gols na goleada contra o Brasil, apenas Miroslav Klose não passou pelo novo modelo de categoria de base. Thomas Muller, Tony Kroos (2 vezes), André Schurlle (2 vezes) e Samir Khedira foram ‘produtos’ saídos diretamente desses novos centros de formação de talentos.

 

Fonte: Última Instância

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